Mais
um capítulo da violência no Brasil, uma realidade macabra que
amedronta, ao mesmo tempo envergonha e mancha a imagem de nosso país ao
redor do mundo, com a divulgação de mais um Atlas da Violência,
referente ao ano de 2016 e uma visão retrospectiva e comparativa, neste estudo
produzido pelo IPEA e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP),
divulgado há poucos dias.
Os dados, principalmente em sua dimensão evolutiva e
também ao caracterizar a violência que está dizimando, exterminando grandes contingentes
demográficos, além de representar o descaso como nossos governantes vem
tratando esta questão, também revelam a incompetência, insensibilidade perante
um drama que afeta, em maior grau, a população pobre, os negros, pardos ou
afrodescendentes, os jovens e as mulheres.
Em 2016 foram assassinadas 62.517 pessoas no Brasil,
numero maior do que a soma dos homicídios ocorridos na Europa, Estados Unidos e
China. Basta lembrar que esses países reunidos representam pouco mais de 2,4
bilhões de pessoas, enquanto o Brasil, em 2016 tinha apenas 206 milhões de
habitantes ou seja, apenas 9,8% da população daqueles países em conjunto.
A taxa de homicídios por 100 mil habitantes vem crescendo
desde os anos 1980, passando de 11,7 no inicio daquela década para atingir 30,3
no ano de 2016 e, com certeza muito mais em 2017 e 2018, com o
destaque que nos últimos dez anos a taxa de homicídios para a população branca
caiu 6,8%, enquanto esta mesma taxa para a população afrodescendente (negros e
pardos) aumentou em 23,1%.
Segundo o jornal O Dia de 07/12/2017, o numero de homicídios
em 2017, quando divulgado oficialmente, deverá ser de 70,2 mil e a tendência de
que o ano de 2018 terá um numero ainda maior. Isto demonstra que estamos
vivendo uma verdadeira Guerra civil ou um genocídio.
Outro dado importante deste estudo, para entender a
dinâmica deste extermínio de jovens, principalmente negros e pardos, é que a
taxa de homicídios nesta faixa etária para a população branca é de
16 por cem mil habitantes enquanto para negros e pardos é de 40,2, ou
seja, 151,2% maior do que entre jovens brancos. A conclusão que se
pode extrair desses dados é que 71,5% das vitimas de homicídios no Brasil em
2016 (44.700 pessoas) eram negros e pardos, enquanto 29,5% eram brancos (17.817
vítimas), que perderam a vida em decorrência da violência que ao longo de quase
quarenta anos não para de crescer em nosso pais, aterrorizando cada vez mais a
população.
A taxa de homicídios no Brasil é 140 vezes maior do que
na Europa, na China ou em diversas países asiáticos. Entre 1980 até o final de
2018, estima-se que mais de 1,1 milhões de pessoas tiverem ou terão suas vidas
ceifadas precocemente de forma violenta. Um absurdo, uma vergonha, muito
descaso e incompetência dos nossos governantes.
Para a OMS , se um país apresenta taxa de homicídio acima
de 10 mortes por cem mil habitantes está diante de uma epidemia. A
taxa média de homicídios no mundo em 2016, segundo a OMS foi de 8 assassinatos
por cem mil habitantes e no Brasil foi de 30,3; ou seja; 279,1% maior do que a
media mundial, algo que reflete uma realidade que todo mundo vê, sente, tem
medo e está ceifando milhares de vidas a cada ano e milhões em poucas décadas,
ante o descaso, incompetência, insensibilidade, demagogia de nossos
governantes, os quais, por não definirem e implementarem planos, programas e
ações efetivas para combater e colocar um paradeiro nesta Guerra, também são cúmplices da bandidagem, do crime organizado que agem com desassombro.
O relatório do IPEA/FBSP, da mesma forma que tantas
outras pesquisas de outras instituições que se dedicam a estudar a dinâmica da
violência, devem ser lidos, debatidos e que esses dados sirvam de subsídios
para que a população e as organizações da sociedade civil cobrem mais de nossas
autoridades e governantes para agirem com inteligência, planejamento
estratégico e alocarem recursos suficientes para que, de fato, esta carnificina
tenha um fim.
O país e a população estão fartos de discursos,
principalmente em períodos eleitorais ou ações espetaculosas ou demagógicas que
acabam não dando em nada, a não ser muita pirotecnia e belas mentiras
dourados dos governos.
Enquanto esta incompetência e insensibilidade correm
soltas, a população brasileira, todos os dias enterra seus mortos, deixando
para traz um rastro de dor, indignação e descrença em relação `as nossas instituições,
inclusive a Justiça, nossos governantes e nossas autoridades.
JUACY DA SILVA é professor aposentado da UFMT. Email professor.juacy@yahoo.com.br
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