O cuiabano sempre foi amante do futebol. Na minha
infância jogava-se bola em qualquer lugar com qualquer objeto de aparência
esférica que aparecesse, um papel amassado, uma laranja e às vezes até uma
tampinha de garrafa abandonada no pátio da escola, com dois “bambolês” de
traves.
Porém nem mesmo o mais apaixonado cuiabano amante do
futebol havia sequer pensado que um dia Cuiabá pudesse sediar uma Copa do
Mundo, o olimpo mundial de tão querido esporte. E não é que aconteceu? No
próximo dia 13 de junho já se completam 4 anos do primeiro jogo da Copa do
Pantanal, evento que foi até o dia 24 do mesmo mês, abrindo com Santo Antônio e
fechando com São João.
Contudo, um triste processo de desconstrução política a
faz parecer bem mais distante, já quase esquecida. Mas não dá para esquecê-la
fácil. Junho de 2014 chegou com os primeiros turistas. O primeiro, Cristian
Guerra, chileno, chegou depois de 4 meses de viagem de bicicleta.
E logo chegaram aos milhares, alegres, dando aula de como
torcer aos brasileiros. Os chilenos uníssonos com seus “chi-chi-lê-lê”, os
australianos de cangurus e coalas. E também vieram os russos, nigerianos,
coreanos, os bósnio-herzegovinos, colombianos e os japoneses ensinando
civilidade ao limpar a Arena após o jogo, lição usada pela torcida do Cuiabá no
primeiro jogo de seu time após a Copa, mas ficou só nesse primeiro e depois
esqueceram.
Podiam relembrar. Os colombianos trouxeram sua rainha, a
bela Shakira e deixaram a lembrança do gol de James Rodriguez, escolhido por
ele como o seu mais bonito, ele que depois foi eleito o Craque das Américas e
que chegara como mero substituto do então astro maior colombiano machucado.
Veio Bachelet, a presidente do Chile, Wolverine, o
príncipe da Austrália e outras personalidades globais que nem foram percebidas
em meio a turba alegre e festiva que lotou a Arena, o Fan Park, a Arena
Cultural e a Praça Popular ponto de encontro de todas as torcidas.
Fora dos jogos e das festas, o Centro Geodésico foi lugar
de visitação constante, com os turistas sul-americanos procurando suas capitais
no piso do marco. Ao final as pesquisas noticiadas constataram que 91,6% dos
visitantes aprovaram Cuiabá e recomendariam Mato Grosso como destino turístico.
Em pesquisa do Ministério do Turismo 99% dos visitantes
escolheram Cuiabá como a sede mais hospitaleira e a Arena Pantanal foi a
preferida entre os jornalistas estrangeiros pelo site UOL, logo a UOL, sempre
tão dura com Cuiabá. Até o New York Times se rendeu àquela que chamou de “a
menor das cidades-sede”. Quer mais? Mais importante, cerca de três quartos da
população local aprovaram as transformações trazidas pela Copa e acham que a
cidade não passou vergonha, isso a 4 anos atrás, quando bem menos obras estavam
concluídas ou em uso.
Mas para Cuiabá a Copa vai além dessa festa tão bonita.
Ela elevou sua autoestima e ensinou o cuiabano a cobrar pelas obras e serviços
públicos a que tem direito pressionando-o a continuar cobrando a conclusão de
todo o legado prometido de obras públicas e que ainda estão a exigir muita
atenção e cobrança pela população.
Mas, uma vez aprendido, no rastro da cobrança das obras
da Copa, que sejam cobradas também as demais obras públicas, muitas das quais
vêm de bem antes da Copa e ainda se arrastam sem perspectivas de
conclusão.
O importante é que a Copa do Pantanal, o evento em si,
aconteceu com enorme sucesso em todos os sentidos, superando as expectativas
dos maiores otimistas. Para aqueles que apostavam que a cidade seria o “patinho
feio” da Copa no Brasil, Cuiabá acabou se mostrando como um belo tuiuiú
serenando bonito no alto, para depois se assentar vitorioso no chão, como na
letra do siriri tão conhecido.
JOSÉ ANTONIO LEMOS DOS SANTOS é arquiteto e
urbanista
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