Faz
quase quatro décadas que a FAO – Organização das Nações Unidas para alimentação
e Agricultura instituiu o Dia Mundial da Alimentação, celebrado no dia
16 de outubro. Foi em 1981, com o objetivo de conscientizar as lideranças mundiais
e a opinião pública sobre os desafios da segurança alimentar e seus impactos no
desenvolvimento e a paz mundiais. Hoje, o problema da fome recuou em relação
àquela época, mas estima-se que 850 milhões de pessoas ainda vivam sem acesso a
alimentos em quantidade e qualidade suficiente para suprir suas necessidades.
Quando se pensa no direito humano à comida, um dos desafios é o
desperdício. A ONU estima que 30% dos cereais e 20% das proteínas animais são
desperdiçados no mundo. No grupo dos FLVs e tubérculos, a entidade estima perda
de quase metade do que se produz. Em 2016, a ONU e o World Resources Institute
(WRI) estimavam um desperdício de 1,3 bilhão de toneladas de todo alimentos
produzido em um ano, no planeta, provocando uma fantástica perda da ordem de
940 bilhões de dólares. Jogamos fora boa parte do que produzimos, mais os
recursos e energia empregados na sua produção.
Recursos materiais, operacionais,
insumos, dinheiro público e privado, boas intenções, tempo, talento e trabalho
desperdiçados. A lista é enorme e relembro um dado de um lúcido e
recente artigo do Secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado
de São Paulo – Francisco Jardim (Agroanalysis, vol. 38, nº 8): no Brasil, 41
mil toneladas diárias de alimentos são perdidas, o que coloca o país entre os
10 países que mais desperdiçam comida, no mundo. Sem ilusão, portanto: somos
ótimos em produtividade e produção, mas também jogamos fora com fartura.
Quem é o responsável? Pergunta errada:
o desperdício permeia toda a cadeia produtiva de alimentos. Há disparidade
entre os dados disponíveis, mas fala-se em perto de 50% na distribuição e
consumo, 5% no processamento, cerca de 25% na produção e outro tanto semelhante
em transporte e armazenagem. Neste último segmento, a Embrapa fala em 15%. Há
desperdício no campo, na indústria, na logística, no varejo e no consumidor. É
um desafio estrutural e sistêmico, que aumenta os custos da segurança alimentar
e sabota os resultados progressivos de produtividade dos produtores.
O desperdício de alimentos interfere
no meio ambiente e na eficiência econômica, elevando custos e preços, além de
desrespeitar a terra e o produtor. São inúmeras frentes para se atacar o
problema, desde macro soluções envolvendo a governança de cadeias produtivas,
políticas de governo, soluções setoriais mais específicas e até mesmo detalhes
como o ensino sobre conservação de recursos desde os bancos escolares, pois
mudar essa realidade e seus paradigmas é começar a defender o prato futuro
desde já. Afinal, em sustentabilidade o homem é o que mais conta. Seja como
beneficiário, seja como agente.
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