Quem nunca ficou tenso ou com sentimento de
preocupação na véspera de um evento importante como uma prova, uma entrega de
trabalho importante, um primeiro encontro amoroso, uma palestra, ou mesmo, um
procedimento cirúrgico? Este é um sinal típico de ansiedade. Esta sensação de
expectativa é benéfica e nos estimula a ficar preparados diante de uma situação
importante, de ação ou percepção de perigo. No entanto, quando se torna
excessiva, ela pode se transformar em doença.
Todas
as pessoas experimentam periodicamente medo e ansiedade. O medo é uma resposta
emocional, física e comportamental a uma ameaça externa imediatamente
reconhecível, como por exemplo, um intruso ou um carro descontrolado. Já a
ansiedade, é um estado emocional perturbador e desconfortável de nervosismo e
preocupação, cujas causas são menos claras.
Diferente
do medo, a ansiedade está menos ligada ao momento exato do problema. Ela pode
ocorrer antes da ameaça, persistir depois que ela cessou, ou até mesmo,
ocorrer sem motivo identificável. Porém, a ansiedade é muitas vezes acompanhada
por alterações físicas e comportamentos similares àqueles causados pelo medo.
Como
a ansiedade surge e de que forma afeta o organismo:
1. Nosso
cérebro, a todo instante analisa o ambiente e identifica possíveis ameaças.
Áreas específicas do cérebro (hipocampo e a amígdala) são responsáveis por
fazer essa varredura;
2. Diante
de um provável risco, o sistema nervoso dispara uma série de reações. As
glândulas suprarrenais, que ficam acima dos rins, liberam doses extras dos
hormônios adrenalina e cortisol;
3. Essas
duas substâncias dilatam os vasos sanguíneos, fazem o coração bater mais rápido
e preparam os músculos para a ação. Com isso, a pessoa começa a apresentar
sinais como taquicardia, suor, tremedeira e falta de ar;
4. Adrenalina
e cortisol chegam ao cérebro, onde estimulam a produção de neurotransmissores
que deixam certas regiões da massa cinzenta em estado de alerta;
5. Nos
transtornos de ansiedade, uma ou mais etapas desse processo funcionam de modo
exagerado. Qualquer estímulo é considerado um perigo e gera respostas
exacerbadas de forma desnecessária.
Tais
alterações dependem de condições individuais (genéticas, formação,
desenvolvimento) e questões relacionadas ao ambiente em que a pessoa vive ou
experiências vivenciadas.
Dentre
as manifestações mais comuns estão diarreia, vertigem, sudorese, aumento
dos reflexos, palpitações, inquietação, dilatação das pupilas, desmaio ou
sensação de desmaio, taquicardia, formigamento das extremidades, tremores,
aumento da tensão muscular, perturbação intestinal e alteração da frequência
urinária.
Esses
sinais e sintomas podem ocorrer frequentemente ou às vezes, mas são tão
intensos que a pessoa se sente paralisada, levando a desespero, dificuldade de
concentração e realização de suas tarefas normais. No entanto, algumas medidas
podem ser adotadas para controlar a ansiedade. São elas:
1. Prática de atividades
físicas
A
forma mais comum de controlar a ansiedade é recorrer a exercícios. Praticar
atividades físicas eleva a produção de serotonina, substância que aumenta a
sensação de prazer e reduz a ansiedade. Caminhar três vezes por semana, por
pelo menos meia hora, já pode ajudar. O momento da caminhada, além de ser um
exercício para o corpo, também pode ser aproveitado para trabalhar a mente, sob
a forma da meditação ativa.
2. Reduza seu estresse diário
Pessoas
com tendência a ansiedade precisam reduzir o número de tarefas, atividades e
rotinas. Cada compromisso assumido leva a um incremento do nível de estresse,
deste modo, limitar a quantidade de atividades ajuda a diminuir a ansiedade.
3. Controle a respiração
Para
reduzir as reações do sistema nervoso autônomo, devemos fazer o controle da
respiração. Isto pode ser feito compassando a respiração e inspirando
lentamente pelo nariz, com a boca fechada.
4. Evite pensamentos negativos
Em
situações de ansiedade que se estendam por longos períodos, recomenda-se que a
pessoa evite os pensamentos negativos ou catastróficos. Deve-se tentar
dimensionar a gravidade da situação, perguntando a si mesmo se existe uma forma
alternativa de análise, se estamos superestimando o grau de responsabilidade ou
se estamos subestimando o grau de controle que podemos ter. Muitas pessoas que
sofrem com a ansiedade tem como característica acreditar ter o controle de
todas as situações.
5. Invista em alimentos com
triptofano e chás
Para
conter a ansiedade, podemos ingerir alimentos que sejam fonte de triptofano, um
aminoácido precursor da serotonina, como a banana e o chocolate. Outra
possibilidade é ingerir o triptofano em cápsulas, junto com vitamina B6 e
magnésio. Outros aminoácidos que podem ajudar são a taurina e a glutamina. Eles
aumentam a disponibilidade de um neurotransmissor chamado GABA, que o organismo
usa para controlar fisiologicamente a ansiedade.
A
maioria dos chás possui substâncias que funcionam como sedativos suaves e podem
ajudar no controle da ansiedade diária. As plantas mais conhecidas e estudadas
com essa ação são a passiflora, a melissa, a camomila e a valeriana.
6. Seja mais organizado
Quem
vive na bagunça gasta tempo para achar o que precisa, acumula coisas sem
utilidade, dificultando o bem-estar e acaba por criar sentimentos de ansiedade.
Trabalhar, estudar e viver em ambiente minimamente organizado ajuda no
equilíbrio emocional. Além disso, pessoas com uma organização maior do seu
tempo conseguem aproveitá-lo melhor, o que reduz muitos fatores causadores de
ansiedade.
7. Dedique tempo para se cuidar
e para o lazer
Reservar
algum tempo do dia para você e ser capaz de ouvir suas reais necessidades podem
contribuir diretamente para o controle da ansiedade. Saber olhar para si,
atender e contribuir para sua meta de vida é uma ação de grande poder para sua
vida. Por isso, vá ao salão de beleza, medite, faça uma massagem, ou
simplesmente fique perto de sua família ou das pessoas que ama. Atividades
de lazer como cinema, teatro, passeios e brincadeiras são essenciais no
controle da ansiedade.
8. Cuide dos pensamentos para
sorrir mais
Atenção
ao que você pensa, pois isso terá impacto direto no seu humor. Avalie suas
ideias. Seja capaz de se planejar, programar e ser forte, sem precisar montar
um cenário terrível em sua mente. Com pensamentos mais leves, você perceberá o
mundo de outra forma e isso lhe ajudará a sorrir mais. O riso faz bem para
a cura emocional, relaxa e diminui a ansiedade.
9. Fortaleça o autoconhecimento
Quem
se conhece bem, sabe respeitar seus limites, e por isso, é capaz de se
proteger e ter menos ansiedade do que outras pessoas que estão ainda aprendendo
a se conhecer. Quem tem total aceitação de si mesmo pode pensar, dizer e agir
sem culpa com total alinhamento das suas necessidades.
10. Cuide bem do seu momento
antes de dormir
Evite
ações que levam a agitação, preocupação e desgaste. Nem sempre podemos prever o
que pode acontecer pouco antes de dormir, mas aquilo que depende de nós,
devemos fazer bem feito. Procure conversar assuntos mais sérios fora do horário
de ir para cama. Ponha um freio mental em pensamentos decisivos em momentos de
relaxamento. Mudar a vida dentro da cabeça na hora de ir dormir só gera
ansiedade e perda de sono.
Sempre
oriento as pessoas a adotarem esses hábitos e os resultados, na maior parte dos
casos são muito satisfatórios e evitam que a ansiedade passe a prejudicá-las.
Nos
quadros em que há a presença de uma ansiedade acentuada, que desempenha papel
fundamental nos processos comportamentais e psíquicos do indivíduo,
causando-lhe prejuízos em seu desempenho profissional ou acadêmico e nas
relações sociais, a situação passa a ser caracterizada como transtorno de
ansiedade. Os Transtornos de Ansiedade são as enfermidades mentais que ocorrem
com maior frequência na população geral.
Os
transtornos de ansiedade atingem uma em cada quatro pessoas, sendo mais comuns
entre as mulheres (30,5% delas apresentam transtorno de ansiedade pelo menos
uma vez na vida) do que entre os homens (prevalência durante a vida de 19,2%).
O Inicio precoce do transtorno de ansiedade pode ser visto como preditor de
outros transtornos mentais e outras complicações clínicas, como doenças
cardiovasculares, coronariana, AVE e IC.
Existem
vários tipos de transtornos de ansiedade. Conheça os principais deles:
Transtorno de ansiedade de
separação. Ocorre em crianças e é caracterizado por
ansiedade excessiva sobre separar-se de casa ou de figuras de apego além do
esperado para o nível de desenvolvimento da criança.
Mutismo seletivo. Esse
transtorno é caracterizado por uma recusa persistente em falar em situações
específicas apesar da demonstração de capacidade de falar em outras
situações.
Fobia específica. É
caracterizada por um medo excessivo e irracional de objetos ou situações
específicos que quase sempre ocorre à exposição aos estímulos temidos. O
estímulo fóbico é evitado, ou, quando isso não acontece, o indivíduo se
sente gravemente ansioso ou desconfortável.
Transtorno de ansiedade social
ou fobia social. A fobia social é caracterizada pelo medo de ser
constrangido ou humilhado na frente dos outros. Semelhante à fobia
específica, os estímulos fóbicos são evitados, ou, quando não o são, o
indivíduo se sente gravemente ansioso e desconfortável. Quando os estímulos
fóbicos incluem a maioria das situações sociais, então a especificação é
fobia social generalizada.
Agorafobia. É uma
consequência frequente do transtorno de pânico, embora possa ocorrer na
ausência de ataques de pânico. As pessoas com agorafobia evitam (ou tentam
evitar) situações as quais acham que poderiam desencadear um ataque de
pânico (ou sintomas semelhantes a pânico) ou situações das quais pensam que
poderia ser difícil escapar se tivessem um ataque de pânico.
Transtorno de ansiedade
induzido por substância/medicamento. Esse transtorno é
diagnosticado quando a causa da ansiedade é uma substância (p. ex., cocaína)
ou é o resultado de um medicamento (p. ex., cortisol).
Transtorno de ansiedade
generalizada. É caracterizado por preocupação excessiva, crônica,
que ocorre na maioria dos dias e é difícil de controlar. A preocupação é
associada com sintomas como problemas de concentração, insônia, tensão
muscular, irritabilidade e inquietação física e causa sofrimento ou
prejuízo clinicamente significativos.
Transtorno de ansiedade devido
a outra condição médica. O transtorno de ansiedade
causado por uma condição médica geral é diagnosticado quando as evidências
indicam que a ansiedade significativa é uma consequência direta dessa
condição (exemplo: hipertireoidismo).
Transtorno do pânico. É
uma condição mental que, aliada a um conjunto de alterações fisiológicas,
comportamentais e emocionais, faz com que o indivíduo passe por um período
intenso, repentino e inesperado de medo, sensação de morte ou catástofre
iminente, tipicamente abrupto.
Em
qualquer tipo de transtorno de ansiedade, o importante é buscar auxílio médico
e psicológico.
Carlos Eduardo Reis de Sousa é médico e cirurgião-dentista, com pós-graduação em educação, psiquiatria e medicina do trabalho e mestrado na área de saúde coletiva. É docente de cursos de graduação e pós-graduação na área médica, escritor e palestrante.
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