Quantos ciclistas e “bicicleteiros” precisarão morrer em
Cuiabá por atropelamento antes que o poder público tome providências e construa
ciclovias? A campanha Maio Amarelo tem a proposta de chamar a atenção da
sociedade para os altos índices de mortes e feridos no trânsito, mas não faz
sentido promover um movimento como este sem buscar ações práticas para
enfrentar o problema.
Mesmo o Brasil sendo o terceiro maior produtor
mundial de bicicletas, com uma produção anual que chega a 4 milhões de unidades
e uma frota aproximada de 70 milhões de bicicletas, infelizmente, são poucas as
cidades que investem na infraestrutura necessária que ofereça segurança e
mobilidade aos ciclistas.
Em Mato Grosso, por exemplo, mais de 40% das
bicicletas compradas são utilizadas como meio de transporte urbano. No entanto,
com prefeituras descompromissadas, a política de mobilidade urbana vai à
contramão dos outros estados e se mantém com pouca ou nenhuma infraestrutura
necessária para segurança dos ciclistas e pedestres.
A ineficiência atingiu seu ápice com as “obras da
Copa”, quando praticamente todas as intervenções urbanas de Cuiabá e Várzea
Grande se preocupavam exclusivamente com aqueles que estão dentro dos seus
automóveis ou onde eles iriam estacionar. Aliás, nunca existiu nos projetos
urbanísticos a preocupação com pessoas que andam de bicicleta ou a pé, mesmo
que elas sejam as verdadeiras responsáveis pela história e cultura da nossa
cidade.
As gestões municipais, com seus projetos faraônicos
inspirados em obras europeias ou asiáticas – vide “Porto Maravilha”- inclusive
cortou árvores da mata ciliar do Rio Cuiabá para parecer, quem sabe, o Rio Sena
ou Tâmisa daqui a poucos anos.
Mas esqueceu de pesquisar que a realidade nesses
países é outra hoje e a venda de bicicletas ultrapassou a de carros em
praticamente toda a Europa. Um fenômeno atingiu 25 dos 27 países membros da
união europeia! A constatação afeta inclusive países tradicionalmente voltados
aos automóveis, como Alemanha e Itália.
Infelizmente esta tendência ainda não alcançou
Cuiabá, onde os incentivos ao uso das bicicletas são ínfimos ou mesmo
inexistentes, comparando a outras cidades, como Rio de Janeiro, São Paulo e
Florianópolis ou às europeias, a exemplo de Amsterdã, Paris e Copenhagen.
Historicamente, com o advento da construção de
Brasília, nossa capital sofreu grandes transformações arquitetônicas e
urbanísticas, dentre elas, a infâmia que foi a derrubada de um grande e valioso
patrimônio histórico, a Igreja Matriz. Mas quem sabe nos dias atuais a prefeitura
ambicione novamente ser uma Brasília, só que para coisas relevantes:
“Distrito Federal já tem a maior malha cicloviária
do Brasil. Cidade pode ser uma das líderes mundiais, com mais de 600 km de
faixas exclusivas para as bicicletas”. Ou “Malha cicloviária das capitais
cresce 133% em 4 anos e já passa de 3 mil quilômetros. São Paulo, Rio de
Janeiro e Brasília concentram maior expansão”.
A capital federal de fato se tornou referência no
assunto em pouco tempo e fica atrás apenas de Nova York (Estados Unidos), que
possui com 670 km, e à frente de Copenhague (Dinamarca), Paris (França) e
Amsterdã (Holanda), que têm, respectivamente, 350 km, 394 km e 400 km, de
acordo com a ONG Mobilize Brasil.
Já que os ilustres gestores públicos buscam
‘importar’ soluções em detrimento às propostas locais. Seria uma boa opção
direcionar a administração para ações que valorizem pessoas, transeuntes e
ciclistas, ao invés de apenas carros. Você não acha que seria mais inteligente
e elegante reproduzir o que é bom?
Aliás, tenho um convite a todos: refletir sobre a
cidade que queremos para nossos filhos e netos, ou seja, para as próximas
gerações. Porque as mudanças que desejamos só serão possíveis quando vidas humanas
estiverem efetivamente em primeiro lugar, nas agendas da gestão pública.
EDUARDO CHILETTO é arquiteto e urbanista e presidente da AAU-MT.
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