Quando estamos correndo, podemos dar até 200 passos
por minuto. Cada passo faz um impacto que envia uma forte energia
através de seus pés, tornozelos, pernas, panturrilhas
e joelhos. Essa força é transmitida também aos quadris e
até mesmo para o abdômen e região lombar. Eventualmente, todos
esses impactos irão inevitavelmente causar um pouco de dor.
Para alguns corredores profissionais, a dor é
inevitável; já os corredores recreacionais têm problemas para lidar com a dor,
pois ainda não estão acostumados nem sabem identificar
a gravidade delas. Não se pode simplesmente "ignorar"
a dor, no entanto, a chave para administrá-la é saber a diferença entre
uma dor temporária, dor grave o suficiente para empregar gelo e
compressão, e algo que requer uma visita ao ortopedista.
Conheça algumas das principais causas
mais comuns de dor em corredores. Desta vez, abordaremos as cinco
causas restantes.
Confira:
Fratura por estresse
A fratura por estresse é uma pequena
fratura no osso (fratura incompleta) que não é causada por trauma,
mas pela aplicação repetida de forças durante o exercício. As
forças poderiam vir de execução impactos ou de músculos e tendões
puxando com força no osso. Se não for tratada, o osso pode quebrar
completamente (fratura completa).
Nós, médicos especializados em esportes, sabemos
que a forma do osso, a densidade óssea, a condição muscular e a
condição dos calçados podem desempenhar um papel
no risco de fratura por estresse. Atletas iniciantes e despreparados
fisicamente correm mais riscos, e atletas do sexo feminino estão
estatisticamente mais propícias a essa lesão. A tíbia é o osso mais
acometido na fratura por estresse.
Pode ser difícil evitar uma fratura
por estresse, uma vez que são raras e podem ser causadas por muitos fatores. O
mais importante a fazer é parar de correr assim que houver a suspeita
de uma fratura por estresse, ou seja, sentir uma dor insidiosa no osso, que
corredores descrevem como uma dor profunda que piora ao longo de uma
corrida, geralmente em um lugar muito sensível sobre o osso. É necessário
procurar um ortopedista para fazer uma avaliação e confirmar o diagnóstico.
Bursite
As articulações são cheias de tecidos
conjuntivos e fluidos lubrificantes (líquido sinovial) para mantê-las se
movimentando suavemente. Um dos principais agentes
de amortecimento de impacto são as bursas, pequenos
sacos de fluidos que absorvem choques e mantêm os ossos longe dos atritos uns
dos outros nas articulações. Movimentos repetitivos, como corrida de longa
distância, podem colocar muita pressão sobre as bursas. Elas
podem se tornar dolorosamente inflamadas, uma condição conhecida
como bursite. Ocorre em alguns casos rigidez articular
e dores nas articulações, que podem ficar visivelmente vermelhas
ou inchadas.
Os corredores são mais suscetíveis à bursite nos quadris, joelhos e calcanhares (arremessadores
de beisebol e jogadores de vôlei e basquete tendem a ter bursite nos ombros).
Em alguns casos, a bursa pode ser perfurada, o que pode levar
a infecção e um problema mais sério conhecido como bursite
séptica.
O tratamento inicial é simples:
imobilizar e descansar a articulação, aplicar gelo e tomar medicamentos
anti-inflamatórios.
Estiramento/Distensão/Lesão
Muscular
Estiramento, distensão ou lesão muscular descrevem
mais ou menos a mesma fisiopatologia da lesão. Elas podem resultar
de músculos que não foram alongados ou aquecidos
adequadamente, ou o uso excessivo do músculo por um movimento repetitivo,
ou até mesmo um movimento poderoso e súbito como saltar ou explodir
(saída/largada) fora dos blocos de partida em sprints (tiros).
A lesão muscular mostra-se como
uma dor súbita na corrida que não vai embora e
mantém-se constante durante todo treino/prova. Mais tarde, ele se
tornará inchado, doloroso e, possivelmente, ruborizado.
O tratamento é semelhante em todos os
casos de lesões musculares e varia de acordo com o grau da lesão e o tempo de
recuperação à medida que aumenta a gravidade. Iniciamos com proteção, repouso,
gelo, compressão, elevação - conhecido como PRICE, método seguido de
reabilitação dos músculos danificados com exercícios
leves-, fisioterapia e massagem muscular profunda para evitar a
formação de tecido cicatricial dentro do músculo.
Tendinite
Os tendões são estruturas de tecidos conjuntivo que
funcionam ancorando os músculos aos ossos. Quadris, joelhos, tornozelos e pés
são todos os lugares possíveis onde um corredor pode sofrer de tendinite.
A tendinite ocorre quando o tendão se
torna inflamado ou danificado por excesso de uso. No
jogo de tênis, por exemplo, ocorrem as tendinites e epicondilites do
cotovelo. Corredores podem ter uma dificuldade particular
com o tendão de Aquiles.
O tratamento da tendinite assemelha-se aos de
outras lesões desportivas (PRICE). O corredor pode não perceber quando
tem tendinite no princípio, até que se torne visivelmente inchado, com a
articulação quase rígida devido à dor. É mais fácil de tratar quando
diagnosticada no início, por isso a cautela é a melhor maneira
de prevenir.
Câimbra
Câimbras musculares podem ser bastante limitantes.
O músculo se contrai incansavelmente e, mesmo que dure
apenas alguns segundos, a dor é bastante aguda. Felizmente, não
levam a lesões graves (embora você possa experimentar alguma dor muscular no
dia seguinte). Infelizmente, ninguém sabe exatamente a
real causa ou como preveni-las, existem apenas hipóteses.
Muitos acreditam que a desidratação leva
a câimbras, mas isso não ocorre em alguns casos. Estudos têm demonstrado que a
hidratação não é a questão subjacente, embora possa ser um desequilíbrio
eletrolítico, caso em que a ingestão de bebidas esportivas eletrolíticas
poderia ajudar.
Podem ser causadas por alteração
nervosa/neurológica devido à fadiga muscular, o que seria evitável
comendo carboidratos antes das provas. Algumas pessoas que sofrem de
câimbras têm encontrado alívio com massagem muscular profunda.
Existem algumas condições médicas que aparecem como câimbras musculares, por
isso, se você tem essa queixa frequente, procure um especialista para
investigar! Bons treinos!
Ana Paula Simões é Professora Instrutora e Mestre em Medicina, Ortopedia e Traumatologia e Especialista em Medicina e Cirurgia do Pé e Tornozelo pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
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