No
dia 10 de maio, comemoramos anualmente o Dia Internacional de Atenção à Pessoa com Lúpus. Esta ideia, como todas as outras
campanhas criadas, serve para conscientizar a população sobre temas
específicos, chamar atenção para que a informação seja disseminada e traga
resultados positivos à sociedade. Assim, durante todo o mês, observamos
especialistas falando no assunto, pacientes se mobilizando em caminhadas,
encontros e outros eventos para aumentar o reconhecimento, diagnóstico e
tratamento da doença.
Porém, o fato de existir um dia especial comemorativo não faz as outras
doenças reumatológicas menos importantes, com mais ou menos potencial de ser
grave. Sempre que possível, aproveitamos estes momentos para difundir o
conceito da especialidade Reumatologia e sua ampla atuação.
O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença complexa, autoimune,
não contagiosa, com sintomas que podem variar de intensidade (de leve a grave)
e as características dependem do órgão afetado. De uma maneira geral, acomete
pele e articulações, podendo atingir órgãos como coração, sistema nervoso
central, pulmões e rins.
As manifestações cutâneas são importantes para o diagnóstico,
identificadas em 70% dos pacientes no início da doença e em até 80% na sua
evolução, com amplo espectro nas suas características. A mais conhecida é orash
malar ou lesão em “asa de borboleta” que é o eritema
(vermelhidão). Ele ocorre na de região malar da face e piora com exposição
solar, situação identificada em até 60% dos pacientes. Esta lesão, inclusive, é
a responsável pelo nome da doença. A palavra "lúpus" vem do
latim lupus, que significa "lobo", já que seu aspecto lembra as
marcas brancas no focinho de um lobo. Já "eritematoso" vem do grego e
significa vermelho, referindo-se à coloração vermelha da erupção cutânea.
O lúpus atinge principalmente mulheres entre 20 e 45 anos. Sua causa é
desconhecida, mas sabe-se que fatores genéticos, hormonais e ambientais estão
relacionados com o desenvolvimento da doença. Por atingir mulheres em idade
reprodutiva, grande atenção deve ser dada às mulheres que desejam engravidar,
fazendo orientações sobre a maternidade como: momento ideal de concepção, uso
de drogas proibidas neste período, riscos e cuidados necessários para que
ocorra um parto tranquilo e bem assistido para a mãe e a criança.
Vale a pena pontuar que um exame laboratorial comum é o FAN (fator
antinuclear). Ele auxilia no diagnóstico, mas não tem valor para
acompanhamento. Logo, seus valores não refletem melhora ou piora e o
resultado não é exclusivo do Lúpus, podendo estar presente em outras
doenças autoimunes, infecciosas, neoplásicas e até mesmo em indivíduos
saudáveis.
O acompanhamento e tratamento destes pacientes deve ser conduzido por um
reumatologista, que irá considerar diagnósticos diferenciais importantes
antes de estabelecer a terapia adequada o mais precocemente possível para
evitar sequelas irreversíveis e melhora da qualidade de vida. Alguns
tratamentos são disponibilizados pele Sistema Único de Saúde (SUS), mas muito
temos a conquistar para garantir o direito dos pacientes.
O uso de corticosteróide tem sido usado de forma muito mais
criteriosa na atualidade, em decorrência do elevado número de complicações
permanentes a longo prazo, embora seja de extrema importância em situações como
as lesões agudas e graves que precisem de resposta imediata. O aparecimento de
catarata, osteoporose, osteonecrose e outras complicações leva a
necessidade de usá-lo com muito cuidado e indicação precisa. Existem opções
terapêuticas que conseguem reduzir a dose usada ou suspender
completamente o corticóide.
A análise criteriosa do diagnóstico, programação do tratamento e
prognóstico devem ser bem estabelecidos pelo médico assistente. É fundamental
explicar ao paciente e seus familiares sobre a história natural da doença,
potencial gravidade do acometimento, das comorbidades envolvidas e sobre as
medicações utilizadas. Isto reflete na adesão ao tratamento por parte do
paciente e é uma causa importante do não controle da atividade de doença, o que
leva à graves consequências, diminuição da qualidade de vida, afastamentos
do trabalho e até a morte.
Cláudia Costa é especialista em reumatologia pela Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo (FMUSP), além de pós graduada em acupuntura e reumatologista do
Ministério da Defesa.
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